(Foto Ryan Hide) |
A partir destas observações surgiu o conceito do paradoxo francês. Na época destas observações, o consumo de gordura saturada na França era elevado, ao passo que a incidência de doenças cardiovasculares era baixa. Esta condição paradoxal foi atribuída ao elevado consumo de álcool pelos franceses (particularmente vinho tinto), o que exerceria um efeito protetor da doença cardiovascular. Isso abriu uma nova perspectiva nas recomendações médicas que tem levado a uma certa permissividade em relação à ingestão moderada de álcool pela população em geral.
Contrário a esta tendência, o recente relatório mundial da Agência Internacional para Pesquisa em Câncer (IARC), que é uma divisão da Organização Mundial da Saúde (OMS), alerta que o consumo regular de qualquer quantidade de álcool aumenta o risco para vários tipos de câncer. Em 1988 a mesma Agência já havia declarado o álcool como um carcinógeno.
Apesar dos mecanismos do álcool causando câncer ainda não estarem completamente esclarecidos, o etanol é um carcinógeno comprovado e, além disso, bebidas alcoólicas possuem outras substâncias também carcinogênicas. Um dos produtos do metabolismo do álcool é o acetaldeído, que, assim como o álcool não metabolizado, quando em contato direto com as mucosas das vias aéreas e do trato digestivo superior, provocam sua hiper proliferação. Mesmo doses baixas podem aumentar o risco de câncer nestas áreas. O consumo de álcool também aumenta o risco de câncer de cólon, reto, fígado e de mama em mulheres.
Qualquer dose pode ser prejudicial. Segundo a OMS não há dose segura de álcool quanto ao risco de câncer. Além disso, já foi observada uma relação dose/resposta entre álcool e alguns tipos de câncer. Mesmo para o bebedor leve (social), o risco de câncer para orofaringe, esôfago e mama em mulheres é aumentado.
Fica enfatizado que as evidências dos efeitos prejudiciais do álcool à saúde, como um todo, são mais contundentes que as dos seus efeitos benéficos.
Este relatório da Organização Mundial da Saúde deve produzir a seguir novas orientações que sejam mais restritivas quanto ao consumo de álcool, em qualquer quantidade, pela população.
Fonte
Lyon, France: International Agency for Research on Cancer; 2014.