Alguns estudos indicam que o endividamento como fator de estresse é associado de forma negativa a aspectos da vida do indivíduo, que vão do estado saúde até à relação conjugal, passando pela capacidade de concluir os estudos.
Uma pesquisa publicada recentemente na revista Journal of Family and Economic Issues teve como objetivo investigar uma possível associação entre endividamento e sintomas depressivos em adultos. Mais de 10.000 participantes entre 21 e 65 anos foram entrevistados entre 1987 e 1989 e re-entrevistados entre 1994 e 1996. Na pesquisa foram avaliados tipo de endividamento (curto ou longo prazo) e sintomas de depressão (reportados pelos participantes e medidos por uma escala validada).
Setenta e nove por cento dos participantes tinham algum tipo de dívida. Dentre esses, 62% eram de curto prazo (do tipo contas vencidas ou cartão de crédito acumulado). As pessoas com dívidas de curto prazo tiveram uma probabilidade significativamente maior de apresentarem sintomas de depressão como tristeza, falta de motivação, problemas para se concentrar, dificuldades para dormir ou alterações de peso corporal. Curiosamente, esta associação não foi observada nas pessoas com dívidas de longo prazo (financiamento da casa própria, por exemplo). Isto pode ser devido ao fato que financiamentos de longo prazo são mais planejados e incorporados a uma rotina financeira. Contrariamente, os endividamentos de curto prazo, relacionados às compras feitas no impulso, de bens muitas vezes desnecessários, são de difícil manejo e, aparentemente, mais estressantes.
Apesar das várias limitações metodológicas e analíticas deste tipo de estudo, o que impede que seus resultados sirvam para conclusões definitivas, a pesquisa expõe uma forte associação entre endividamento de curto prazo e sintomas depressivos.
Isto pode servir de alerta para o desenvolvimento de sistemas de proteção dos consumidores que levem em conta os custos não financeiros diretos associados às dívidas.