A urbanização crescente e o estilo de vida moderno têm levado a mudanças substanciais nos hábitos alimentares da população, especialmente nos países ocidentais. O maior tempo gasto no transporte de casa para o trabalho e vice-versa é compensado com um menor tempo para a realização das refeições. Se, antigamente, nas pequenas comunidades, todas as refeições eram feitas e preparadas em casa, nos dias de hoje isto é raro.
Para fazer frente a esta nova realidade de demanda de refeições rápidas e práticas houve um grande crescimento da indústria de alimentos prontos ou pré-prontos, os chamados alimentos industrializados, acondicionados em embalagens dos mais diversos padrões. Além disso, houve também uma grande proliferação de restaurantes e lanchonetes, além de serviços de venda de comidas prontas em grandes redes de supermercados. A tecnologia, por sua vez, contribuiu com o forno de micro-ondas, que permite o aquecimento ou cozimento dos alimentos prontos ou pré-prontos em tempos menores.
No entanto, esta mudança de hábito alimentar causa efeitos colaterais e os custos destes efeitos são geralmente cobrados na saúde da pessoa.
Uma das principais consequências negativas deste tipo de alimentação diz respeito ao excesso da ingestão de sódio (contido no sal de cozinha), pois existe uma correlação direta e positiva entre este excesso de ingestão e o aumento da pressão arterial. Hipertensão arterial (pressão alta) é um dos principais fatores de risco para uma série de doenças (doenças cardíacas e derrames cerebrais) que constituem as principais causas de morte -- inclusive mortes precoces -- nos dias atuais.
Os Estados Unidos é certamente o país campeão em consumo de comida industrializada e dados recentes indicam que mais de 90% dos adultos americanos consomem mais sódio do que o recomendado. Um estudo recente, realizado naquele país e publicado na revista científica Preventing Chronic Disease deste mês de abril, avaliou o conteúdo de sal nos alimentos industrializados vendidos nos supermercados. Foi constatado que mais de 50% dos alimentos vendidos em embalagens têm uma grande quantidade de sal adicionado, sendo superior ao recomendado como quantidade saudável pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças, que é o órgão que define as diretrizes de consumo alimentar saudável.
A quantidade de sódio ingerida considerada saudável, ou seja, sem potenciais repercussões sobre a pressão arterial, é de 2,3 gramas de sódio por dia para adultos até 51 anos. Para pessoas com mais de 51 anos, ou de qualquer outra idade que já tenham hipertensão, diabete ou doença renal crônica e para os afrodescendentes, este valor é de 1,5 gramas/dia. Considerando que um potinho de sopa pronta ou um sanduíche de fastfood contêm 2,2 g de sódio, fica difícil manter uma dieta alimentar saudável com estes alimentos sendo ingeridos de forma sistemática e não só "de vez em quando".
Os autores da pesquisa alertam também para a importante constatação de que a maioria do sódio ingerido pela população vem de comida de restaurantes e de alimentos processados (industrializados) vendidos em pacotes. Ambos podem conter um excesso de sódio. Estima-se que hoje, somente 25% do total de sódio ingerido por uma pessoa é aquele adicionado na preparação caseira do alimento (seja durante a preparação ou após a preparação), e 75% provém de alimentos industrializados, comprados prontos ou pré-prontos em embalagens.
Com este ambiente alimentar cresce a dificuldade para atingir-se um consumo de sódio saudável.
Uma dica que funciona muito bem é ficar longe das embalagens. Quanto mais natural o alimento, melhor para a sua saúde.
Autor: Dr. Gilberto Sanvitto - ABC da Saúde
Referência Bibliográfica
-Preventing Chronic Disease - 2015;12:140500. DOI: http://dx.doi.org/10.5888/pcd12.140500.